Guilherme Machado
O cérebro humano é naturalmente conservador. Situações que nos obrigam a sair da nossa zona de conforto e que, consequentemente, implicam uma tomada de atitude diante de uma mudança de cenário nos causam desconfiança, medo e até repulsa.
E o ano de 2014 está cheio de situações que nos colocam diante de um futuro de especulações e nos tiram da zona de segurança. Entre elas está a Copa do Mundo. Estamos a menos de 60 dias da maior competição esportiva do mundo e os questionamentos sobre as consequências deste evento nos colocam em estado de alerta. No mercado imobiliário esta postura não é diferente.
As perguntas que muitos fazem são:
- O mercado imobiliário brasileiro continuará aquecido após a Copa?- Os preços dos imóveis vão abaixar?- Devo comprar um imóvel agora ou espero a Copa passar?Aumento da taxa SelicCrédito imobiliário bate recordeNota-se, então, que a Poupança continua sendo uma das bases de sustentação do crédito imobiliário, mesmo sendo apontada por especialistas como um investimento não tão atrativo diante do aumento da taxa Selic e do rendimento relativamente mais alto de outros tipos de investimento de renda fixa.Entre as hipóteses possíveis para a confiança do brasileiro na poupança estão a simplicidade da aplicação e o fato deste investimento ser livre do Imposto de Renda, fatores estes que independem da Copa do Mundo.Mercado mais maduro e equilibrado Economia aquecida em vários setores
Em uma análise positiva, entretanto, consciente e bastante realista,avalio que este período anterior a Copa seja ainda um bom momento para se investir em imóvel. Esta alternativa se mantém como uma opção segura de investimento. E vou além, não acredito que seja a melhor estratégia definir a decisão pela compra a partir da Copa do Mundo. Defenderei melhor este ponto de vista a partir dos pontos abaixo. Vem comigo!
Tivemos recentemente um aumento na taxa Selic (taxa básica de juros) que alcançou a marca de 11% ao ano. A expectativa dos economistas dos bancos é de que até o final do ano ocorra pelo menos mais uma elevação na taxa.
Portanto, se a Selic aumenta, a tendência é de que o empréstimo fique mais caro, e por consequência, haja uma elevação no valor do imóvel. Diante disso, não creio que acontecerá uma queda desproporcional no valor dos imóveis após a Copa. Do mesmo modo, não acredito que o consumidor final vai sentir este impacto de forma abrupta nos próximos meses, mas perceberá uma mudança.
De acordo com o Banco Central (BC), o financiamento imobiliário alcançou R$ 146 bilhões no ano passado. Dos quais, R$ 32,3 bilhões oriundos do FGTS e o restante originário do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE).
O mercado imobiliário amargurou anos de estagnação. De 2008 para cá, vimos um crescimento extraordinário. Empresas e profissionais do setor aproveitaram este boom de desenvolvimento para se aprimorarem. O segmento aprendeu a avaliar as demandas de mercado e passou a oferecer produtos mais adequados às necessidades do consumidor.
Com isso, analiso que todas as oportunidades de negócio que estão surgindo agora e que, indiscutivelmente, também foram aquecidas pela realização da Copa no Brasil foram pensadas de forma consciente e planejada. Desse modo, não creio em um desajuste desenfreado dos preços após a competição. O mercado não surfa numa onda de otimismo exacerbado a ponto de colocar a perder todo o aprendizado e evolução conquistados ao longo dos últimos 6 anos.
É fato que os imóveis localizados nas cidades-sede dos jogos estão com preços mais valorizados. Entretanto, esta valorização não é uma característica exclusiva do mercado imobiliário. Todo conglomerado econômico nestas regiões se movimentará para aproveitar ao máximo a circulação financeira promovida principalmente pelo turismo. O segmento de hotelaria, por exemplo, está a todo vapor para receber os turistas e já é perceptível o aumento do valor nos pacotes de hospedagem.
Além disso, não temos hoje um volume tão grande de investimento estrangeiro no mercado imobiliário brasileiro que impactaria em uma queda descabida depois da Copa. Logo, os valores dos imóveis tendem a se ajustar após o torneio mundial, ficando mais atrativos. Mas não será uma mudança brusca que influencie de forma extraordinária na decisão de compra do consumidor final.
Assim sendo, não penso que seja a estratégia mais adequada associar o momento da compra do imóvel à Copa do Mundo. Não vejo este evento como referência para aquisição de imóvel, sobretudo, para aquelas pessoas que têm interesse para fins de moradia.
É claro que para o perfil investidor haverá sim um impacto, pois a sua compra está diretamente ligada ao interesse em rentabilizar o investimento, seja com o aluguel ou outra forma de “explorar” este bem. Todavia, o núcleo que movimenta o mercado está no perfil morador, tendo em vista o alto déficit habitacional no Brasil e a maior acessibilidade ao financiamento, logo, a copa não é parâmetro decisivo para a compra.
Apesar de não vislumbrar uma desvalorização severa, não podemos fechar os olhos para os desafios que o setor pode vir a enfrentar. Estamos num mercado de risco e sujeito às oscilações. Desta forma, uma análise inflexível que não leva em conta a dinâmica do segmento pode se configurar como um erro irreversível.
É por isso que o corretor de imóveis precisa estar atento aos cenários e buscar cada vez mais pela capacitação. É seu papel orientar bem o cliente diante deste período que naturalmente gera incertezas para quem não está habituado às variações do mercado imobiliário.
Neste processo de compra de imóvel existem fatores mais significativos do que a Copa do Mundo e que devem ser apresentados de forma segura aos clientes. A necessidade de entender que este é um investimento em longo prazo e que exige planejamento, a análise do mercado e das melhores formas de pagamento, além do estudo do orçamento familiar são exemplos desses fatores.
Esta consultoria especializada que visa garantir a tranquilidade e a melhor experiência com o mercado para o consumidor final é que deve ser a maior preocupação dos profissionais do setor.
É vital conhecer amplamente as necessidades do consumidor final do mercado imobiliário a fim de oferecer empreendimentos compatíveis com o perfil do público de interesse. É a assertividade nestas estratégias que garantirá um mercado forte e sustentável.
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